segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma: ‘Somos, naturalmente, amantes da liberdade’


Primeira mulher a comandar o País, Dilma Rousseff foi eleita ontem com mais de 55 milhões de votos. Ela estava em casa, em Brasília, quando soube da vitória

Rio - O dia 1º de janeiro de 2011 será especial para o Brasil. É quando vai tomar posse a primeira mulher eleita presidenta da nossa História. Dilma Rousseff (PT) receberá a faixa presidencial de seu mentor político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também vitorioso por ter feito sua sucessora. Avó, mãe, divorciada, economista, ex-guerrilheira torturada e ex-ministra, Dilma derrotou ontem José Serra (PSDB) por 56,05% contra 43,95% dos votos no segundo turno da eleição presidencial, com 99,99% das urnas apuradas.

“Reforço o compromisso com a erradicação da miséria e a criação de oportunidades. Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte”, disse, comprometendo-se também com a igualdade de oportunidades para as mulheres. “Gostaria que pais e mães de meninas olhassem hoje nos olhos delas e dissessem: ‘Sim, a mulher pode’”.

Nos agradecimentos, um coro de “Lula, Lula” foi puxado quando a eleita citou o presidente. “Baterei muito à sua porta e tenho certeza que a encontrarei sempre aberta”, disse Dilma, às lágrimas. Também reafirmou o compromisso com a liberdade de imprensa: “Nós, que dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, somos, naturalmente, amantes da liberdade. Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”.

Ao chegar à sua primeira manifestação pública como presidenta eleita, Dilma foi recebida por governadores, ministros, servidores, deputados e senadores aliados.

A petista recebeu a notícia da vitória em casa, no Lago Sul, em Brasília. Estava com aliados, como o governador reeleito da Bahia, Jaques Wagner (PT); o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT); e o marqueteiro João Santana. Houve pequena comemoração. Logo depois, chegou o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo. Mais tarde, ela foi para o hotel onde fez o discurso.

Abstenção

O índice de abstenção na eleição foi alto: 21,50%, mais de 29 milhões de eleitores. É o maior do segundo turno desde a redemocratização. Votos nulos somaram 4,68 milhões de votos, ou 4,40%, e em branco, 2,30%, mais de 2,45 milhões.

Dona Dilma, mãe da presidenta eleita, não pôde votar na filha

Dilma Rousseff foi eleita a primeira mulher presidenta do Brasil com mais de 55 milhões de votos, mas não teve o voto da mulher mais importante de sua vida: sua mãe. Dilma Jane Silva Rousseff, que tem domícilio eleitoral em Belo Horizonte, cadastrou-se para votar nos dois turnos em trânsito, na expectativa de que iria acompanhar a filha em Porto Alegre, onde a petista votou. Mas ela permaneceu em Minas Gerais ontem e não pôde votar.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, quando um eleitor opta por votar em trânsito, ele não pode votar no seu domicílio eleitoral, mesmo que esteja na sua cidade, porque seus dados só podem ser registrados na cidade onde ele escolheu votar.

Dilma Jane Rousseff tem mais de 70 anos e não é mais obrigada a votar.

Presidenta ou a presidente: certos

O termo “presidenta”, usado durante toda a campanha de Dilma, gerou discussão. Mas, como explicam os especialistas, ele está tão correto quanto “presidente”, que é comum de dois gêneros, ou seja, pode ser usado para falar de um homem (precedido do artigo “o”) ou mulher (precedido de “a”).

“Antigamente, o termo não era usado, primeiro, porque não havia uma mulher ocupando o cargo. Recentemente é que vimos exemplos próximos, como no Chile (que tem Michelle Bachelet na presidência)”, observa a professora de Língua Portuguesa Arlene Vidal, da Secretaria Estadual de Educação e da Universidade Estácio de Sá.

“Obviamente, essa escolha tem um viés feminista, para reforçar que é uma mulher no cargo. E ele atende perfeitamente às normas da gramática”, explica a professora.

Petista não promete novas alianças e diz que vai governar com coligação

Ao chegar a uma escola de Porto Alegre para votar, acompanhada do governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), Dilma Rousseff disse que ontem começava “uma nova fase da democracia”. No entanto, ela não prometeu alianças com a oposição. Embora tenha afirmado que buscará diálogo com “todos os setores”, destacou que vai governar “para todos, mas não com todos”.

“Vai ser exigido de quem passar a assumir o governo que tenha sentimento republicano. O meu compromisso democrático é de governar para todos. A minha coligação, que foi quem me trouxe até aqui, é com quem eu vou governar”, disse Dilma, depois de tomar café da manhã com líderes políticos gaúchos.

Depois de votar, a até então candidata foi para a casa da filha, descansar e ver o neto, Gabriel. Depois, embarcou para Brasília, onde acompanhou a apuração.

O Dia

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